...não tenho nada contra carrapitos, mas parece que é um dos principais requisitos para liderar a nova tendência no mundo do exercício, baseada nos chamados "movimentos naturais". As teorias e metodologias são ensinadas por pessoas que as intitulam com nomes coloridos que incluem quase sempre uma ou mais das seguintes palavras: natural, fit, flow, animal, movement, organi, etc...
A indústria do fitness, como muitas outras, é feita de modas. Desde os ginásios e o treino em máquinas, que isolam os músculos, à utilização de equipamentos, como o TRX e as plataformas vibratórias, ao Crossfit, e, agora, aos movimentos naturais e a todas as invenções e reinvenções que ainda aí vierem. Como profissional do exercício, sinto que tenho a responsabilidade de educar as pessoas para serem criteriosas, para que não caiam em embustes e para que possam tomar a melhor e mais informada decisão possível.
Decidi, então, dar-me ao trabalho de fazer este vídeo por três razões: a primeira, para ganhar a vossa atenção; a segunda, para que possam saber que nos outduros também treinamos e dominamos todas essas competências; a terceira, para vos alertar para a volatilidade e incoerência das tendências da indústria do fitness.
Estes tipos de exercícios que podem ver no vídeo, e que irão encontrar em muitos destes novos métodos de treino, são muito interessantes do ponto de vista da coordenação motora, da mobilidade e estabilidade. Posso também afirmar que o simples facto de os conseguir executar com alguma competência me dá um certo prazer e aumento da percepção subjectiva de auto-eficácia. Sou apologista de que, caso não se tenha nenhum objectivo específico de rendimento, se deva trabalhar um pouco de todas as competências que o nosso corpo nos permite, estas incluídas. Tanto o sou, que dediquei o meu tempo a dominá-las.
Mas aquilo para o qual vos quero alertar, não é para este tipo de exercícios. É para um grupo de indivíduos e empresas que, dentro desta nova moda, fazem acreditar a milhares de seguidores, que dormir em corrimões melhora a saúde da coluna, que saber fazer o pino é uma tarefa fulcral para o nosso bem estar físico, que o melhor equipamento para o membro superior é este ou aquele, que os ginásios são péssimos, que devemos dedicar o nosso tempo a aprender a jogar desportos com o membro não dominante para trabalhar o cérebro, que equilibrar um bastão nas mãos é um exercício preponderante de coordenação óculo-manual e óculo-pedal. São estas pessoas que descredibilizam a minha profissão. É para esta queda para o ridículo, para fundamentalismos e para afirmações absolutistas do "deve", "tem de" e "o melhor para" que vos quero alertar. Para essa imposição subtil daquilo que é o "melhor treino para ti", por parte de quem desenvolve e lidera estes sistemas de treino e estas modas, não necessariamente esta em específico. Para pessoas que falam com demasiadas certezas e de forma completamente absoluta sobre qualquer tipo de treino sem equacionar a variabilidade individual dos sujeitos e desprezando os seus objetivos e limitações.
Que fique claro: sou a favor de qualquer tipo de treino, desde que seja efetivamente capaz de trazer os benefícios que as pessoas esperam, e que as mesmas estejam cientes dos riscos associados às respetivas práticas. Sou contra indivíduos que se vendem a si próprios, fazendo acreditar que têm a chave para o "sucesso físico" e que se constroem com afirmações fundamentalistas e absolutistas, destruindo todas as práticas que sejam divergentes.
Venham treinar connosco.
André Sousa
28 de Setembro de 2018
PS: Sou capaz de executar a maior parte do que podem ver no vídeo porque pratiquei, durante mais de 10 anos, uma das mais antigas modalidades de treino de "movimentos naturais", a capoeira.
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